En cours de chargement...
No alto da colina, onde o Sol do alvorecer se esconde, onde os ventos sopram com uma força descomunal, repousa em eterno sono o meu amor. Na quietude desse lugar desolado, desperto sob a carícia de uma brisa gentil, um toque que traz consigo a melancolia do passado. Meus olhos, exauridos de contemplar o vazio da existência, recusam-se a aceitar as promessas doces de um amor que se foi, mas que ainda vibra em meu peito.
Nas profundezas da memória, residem relatos de tempos imemoriais, quando os ventos murmuravam segredos de uma era de esmeraldas e sonhos. Foi nesse fluxo encantado de dias serenos que meu espírito juvenil experimentou o sentimento mais sublime: o primeiro amor, cujos encantos enlaçam almas desprevenidas em delicados fios de seda e espinhos de rosas. Como um navegante atraído pelo canto da sereia, mergulhei de corpo e alma nessas águas turvas e murmurantes, alheio aos perigos ocultos e redemoinhos traiçoeiros que espreitavam em suas profundezas.
A vida, com sua crueldade caprichosa, logo revelaria que até mesmo o afeto mais puro e cristalino possui garras afiadas e letais, prontas para dilacerar os corações mais obstinados. Nunca antes meu coração frágil conhecera os prazeres e dores de tal encantamento. Meu peito, como um cavalo indomado, era sacudido por batidas frenéticas, galopando por trilhas íngremes e açoitado pelo flagelo do desejo insaciável do destino.
Esse fervor ardente me envolvia sempre que estava com Anny, uma deusa entre mortais, cujas virtudes etéreas me cativaram desde o primeiro olhar. Seus cabelos, sedosos como a seda, pareciam beber das fontes sagradas onde os serafins e anjos se banham. Seus olhos, límpidos como cristal, refletiam uma inocência primordial, ainda não tocada pela dureza do mundo. E seu sorriso, de uma simplicidade arrebatadora, tinha o poder de desencadear rubores e tempestades em todo o meu ser.
Com ela, não havia artifícios ou cinismos afetados. Apenas um amor verdadeiro e imaculado, a celebração pura de duas almas jovens e deslumbradas pela intensidade do sentimento. Juntos, percorremos prados verdejantes, onde nossos risos fluíam livremente e sonhos dourados eram semeados sem receio do futuro. Nossos anseios e esperanças eram compartilhados em conversas ingênuas, na fé ingênua de que o amor seria uma fortaleza inabalável contra qualquer provação.
Minha doce Mary, minha fonte de consolo em dias repletos de poesia. Sua melodia prateada acalmava minhas inquietações, trazendo paz à minha alma tumultuada. Mas, ai de nós! As marés do destino são volúveis, e até mesmo os mais nobres afetos estão sujeitos às suas artimanhas. Como náufragos impotentes, fomos arrastados pelas correntes de dissensões e ambiguidades. A realidade traiçoeira mostrou sua face monstruosa, corroendo as promessas doces que havíamos selado sob os céus estrelados.
Quando ela partiu sem mim, o mel tornou-se fel, e nosso amor, que julgávamos invencível, desfez-se como uma miragem no deserto. De Mary, restaram apenas olhos marejados e um espectro de coração despedaçado. E eu, deixado às vigílias solitárias da melancolia, aprendi amargas lições sobre aquilo que acreditávamos ser a substância mais pura.