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Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verào entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indicio de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memoria de origens. No chào da velha casa a àgua da lua fascina-me. Tento, hà quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos habitos, que me constrange e tranquiliza.
Tento descobrir a face ùltima das coisas e ler ai a minha verdade perfeita. Mas tudo esquece tao cedo, tudo é tao cedo inacessivel. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial. Venho à varanda e debruço-me para a noite. Uma aragem quente banha-me a face, os caes ladram ao longe desde o escuro das quintas, fremen no ar os insectos nocturnos.
Ah, o sol ilude e reconforta. Esta cadeira em que me sento, a mesa, o cinzeiro de vidro, eram objectos inertes, dominados, todos revelados às minhas maàos. Eis que os trespassa agora este fluido inicial e uma presença estremece na sua face de espectros...Mas dizer isto é tao absurdo ! sinto, sinto nas visceras a apariçao fantàstica das coisas, das ideias, de mim, e uma palavra que o diga coahla-me logo em pedra.
Nada mais hà na vida do que o sentir original, ai onde mal se instalam as palavras, como cinturôes de ferro, aonde nâo chega o comércio das ideias cunhadas que circulam, se guardam nas algibeiras. Eu te odeio, meu irmâo das palavras que jà sabes um vocàbulo para este alarme de visceras er dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde tudo jà vinha escrito... E eu te digo que nada estava ainda escrito, porque é novo e fugaz e invençâo de cada hora o que nos vibra nos ossos e nos escorre de suor quando se ergue à nossa face.